“O Eu só se substancializa pela mediação do público (…) os actores de teatro por melhor que saibam os seus papéis e por mais vezes que os tenham representado com sucesso têm sempre medo; o que não é mais do que reconhecer obscuramente o peso decisivo de cada público na substancialização do papel apresentado”[1] (Herpin, 1982, p.80).
A
projecção de uma determinada impressão e a sua posterior interpretação,
constituem os dois momentos fundamentais ao longo de um qualquer processo de
interacção social, que não pode estar dissociado do seu carácter eminentemente
simbólico. Cada actor é responsável pela gestão da sua
apresentação pública, pertencendo à audiência o papel de a “condenar” ou
“consagrar”.
Neste
contexto, a linguagem assume, mais uma vez, um papel preponderante no que diz
respeito aos seus processos de comunicação e de mediação, até porque, ainda que
inserido numa situação de silêncio, um actor nunca deixa de transmitir uma
determinada impressão. Esta questão parece ser significativa, quando se admite
a possibilidade das performances
corporais e gestuais, assumirem uma posição privilegiada nas interacções e nas
formas de comunicação não-verbal.
No entanto, a interpretação da impressão não depende apenas da representação, mas
também dos tais “portadores” ou “indícios” de informação mencionados por
Goffman em “A apresentação do Eu na vida
de todos os dias”, que permitem perceber a relação que poderá ser
estabelecida entre a aparência e o estatuto sócio-económico de um actor, por
exemplo. A valoração positiva ou negativa que cada actor faz dos estereótipos,
que se encontram intimamente associados a determinados papéis sociais, explica
a selecção que antecede a escolha dos papéis a que se propõem representar.
«A nossa vida social decorre
sobretudo portas adentro»[2]
(Goffman,
1993, p. 285)
[1]
Herpin,
Nicolas. (1982) «A Sociologia Americana»,
Porto, Edições Afrontamento.
[2] Goffman, Erving.
(1993) «A apresentação do Eu na vida de todos os dias», Lisboa, Relógio d’Água
Editores.
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