terça-feira, 29 de novembro de 2011

Matemática

Num movimento brusco, atirou a borracha para o chão e inclinou-se para a apanhar.
 Sabia que a professora Catarina estava a escolher um aluno para ir ao quadro resolver um problema de matemática.
Demorou-se por debaixo da carteira. A julgar pela sua altura, certamente passava despercebida. Ou não.
“Isabel: ao quadro!”
“Pronto. Já foste…” – desabafou resignada, em confidência com os fantasmas matemáticos que a atormentavam na altura.
Claramente, a Matemática nunca foi o seu forte.
Para além de não conseguir reconhecer as vantagens de uma disciplina como aquela, tinha plena consciência, de que a liberdade para a resolução de problemas como aquele, era limitada e vinculada ao manual da época, que induzia o aluno a seguir um caminho, como se outros não houvesse.
Perdeu a criatividade, o espírito crítico, a capacidade de inventar e de resolver os problemas. Ainda que não a considerasse como uma das suas disciplinas favoritas, reconhecia a sua importância num mundo cada vez mais matematizado.
Hoje, sabe que a Matemática deverá ser encarada como um instrumento de compreensão e acção sobre a realidade.
Muito embora a pedagogia actual ainda preserve aspectos formais, de uma Matemática que privilegia o cálculo abstracto, o simbolismo e a abstracção pura, absolutamente desligadas da realidade e dos seus contextos socioculturais, construir cidadãos pensantes e preparados para o mundo real, deveria ser um dos objectivos de uma disciplina como esta.
A propósito da temática em causa, recordo uma reflexão de Piaget:
“Não são as matérias que ensinamos que os alunos não compreendem mas sim as lições que lhes damos”.
As mãos suavam. O pensamento estava congelado. Não sabia resolver o problema e a pressão imposta pelo olhar incisivo da professora, não ajudava.
Depois de ter permanecido dez minutos a olhar para um quadro, sem ter a chave para a resposta certa, regressou ao lugar.
A solução para o problema matemático ficou por deslindar. 
Restaram os olhares de um público passivo. O som das reguadas na mão pequenina. A aversão à Matemática.

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