terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mãe do Canto

Mãe do Canto.
Conheceu o mundo a preto e branco e assistiu à evolução das mentalidades. Uma nova postura perante a vida se adivinhava, e ainda bem que assim o era.
Recorda as restrições que teve ao longo da adolescência. A rigidez das regras impostas pelos pais; os preceitos religiosos que respeitava meticulosamente, sem sequer se perguntar sobre o porquê de o fazer;  a voz estridente e claramente indignada de uma mãe que só queria o seu bem, mas que insistia em mostrar-lhe o lado indecente de um beijo; as promessas vazias de um sentimento que nunca conheceu.
Viveu durante grande parte da sua vida para cuidar da família. Foi mãe de três filhos que criou sozinha e a quem deu tudo o que tinha, e o que não tinha.
Os anos passaram.
Os filhos cresceram e foram forçados a sair do país. Um país que os enganou com promessas fáceis e que lhes roubou o chão.
Deixaram a Mãe. Naquele Canto. Aparecem esporadicamente, mas nunca para ficar. Abraçaram um país que lhes deu a vida com que sempre sonharam e compreendia bem isso.
Se pudesse tinha feito o mesmo. Agora já é tarde.
*
Olha para mim. Deixa voar os sonhos e só depois consegue dizer:
"Já não sei viver de outra maneira. O Natal é mais um dia. Sim, já teve sentido. Mas sempre foi o sentido errado."

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