As aspirações humanas são previsivelmente consensuais:
«Até posso não TER uma pessoa ao meu lado, mas tenho estabilidade económica»
«Até posso não TER uma vida financeira abastada, mas tenho uma família que me faz feliz»
«Até posso não TER um único tostão e conviver diariamente com a solidão, mas pelo menos tenho saúde»
Três frases típicas, que retratam o repositório de ilusões, de quem mergulha num mundo onde a tangibilidade do Ter supera a relatividade do Ser.
Dinheiro, Amor e Saúde – três condições, que sempre se mostraram intrinsecamente associadas à existência de um ser humano insatisfeito. As necessidades biológicas, não vão deixar de existir e precisam de ser supridas. Contraditoriamente, os estilos de vida, as imagens e as emoções decorrentes do processo de produção e de consumo, são relativamente dispensáveis, quando se destaca o valor moral, em detrimento de tudo aquilo que é unicamente material.
Não estou a menosprezar factores como o dinheiro, o amor ou a saúde, quando também eles podem e devem ser considerados, numa lógica de satisfação de necessidades distintas. Estou a apenas a relegá-los para uma esfera de consideração, que não lhes dá espaço para que se assumam enquanto factores determinantes por excelência.
Numa fase inicial, a concretização por se ter uma vida material bem sucedida parece ser suficiente e a curto prazo compensatória. Mas e quando essa espécie de concretização, se transforma em frustração? Será que há espaço para deixar que o Ser sucumba uma qualquer doutrina material, num processo de construção pessoal gradual?
Será o homem capaz de se deixar SER, ao invés de apenas TER?