domingo, 17 de junho de 2012

Realidade Distorcida


 “…a atitude natural não presume a suspensão na crença da realidade material e social, mas antes o oposto, a suspensão da dúvida de que algo é uma coisa diferente daquela que aparenta ser”[1](Shutz, 1967, p.229)

Esta ideia, de que “algo é uma coisa diferente daquela que aparenta ser”, mostra que a multiplicidade de significados, característica do comportamento humano, resulta da sua procura constante em “tornar o mundo natural inteligível” (Giddens,1996, p.95). Uma procura que não é inocente, mas que tem como propósito desmistificar os quadros de significado, através dos quais é possível perceber os fenómenos enquanto esquemas explicativos, de uma realidade inevitavelmente distorcida pela percepção de cada um. 
É a mediação entre estes quadros de significado divergentes, que caracteriza uma das funções desempenhadas nas rotinas de produção dos jornalistas, e que poderá ser constituída, de acordo com Giddens, como um “problema hermenêutico”, até porque parece ser impossível ignorar o facto de a vida social ser produzida pelos actores que dela fazem parte. A constituição, e consequente reconstituição, de quadros de significado é uma forma que os indivíduos têm para organizar a experiência na vida de todos os dias, e esse facto parece ser evidente quando aplicado ao mundo do jornalismo, em que a teoria de framing não pode estar dissociada da construção de uma realidade, convertida posteriormente, em fragmento noticioso.


[1] Shutz, Alfred. (1967) «On Multiple Realities», in Colleted Papers, vol. 2, Haia – Citado por: Giddens, Anthony. (1996) «Novas Regras do Método Sociológico», Lisboa, Gradiva, p.42.  
[2] Giddens, Anthony. (1996) «Novas Regras do Método Sociológico», Lisboa, Gradiva.  

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