“…a atitude natural não presume a suspensão
na crença da realidade material e social, mas antes o oposto, a suspensão da
dúvida de que algo é uma coisa diferente daquela que aparenta ser”[1]. (Shutz, 1967, p.229)
Esta
ideia, de que “algo é uma coisa diferente daquela que aparenta ser”,
mostra que a multiplicidade de significados, característica do comportamento
humano, resulta da sua procura constante em “tornar o mundo natural
inteligível” (Giddens,1996, p.95). Uma procura que não é inocente, mas que
tem como propósito desmistificar os quadros de significado, através dos quais é
possível perceber os fenómenos enquanto esquemas explicativos, de uma realidade
inevitavelmente distorcida pela percepção de cada um.
É
a mediação entre estes quadros de significado divergentes, que caracteriza uma
das funções desempenhadas nas rotinas de produção dos jornalistas, e que poderá
ser constituída, de acordo com Giddens, como um “problema hermenêutico”, até
porque parece ser impossível ignorar o facto de a vida social ser produzida
pelos actores que dela fazem parte. A constituição, e consequente
reconstituição, de quadros de significado é uma forma que os indivíduos têm
para organizar a experiência na vida de todos os dias, e esse facto parece ser
evidente quando aplicado ao mundo do jornalismo, em que a teoria de framing não
pode estar dissociada da construção de uma realidade, convertida
posteriormente, em fragmento noticioso.
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