quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Listening to Noise


“Now we must learn to judge a society more by its sounds, by its art, and by its festivals, than by its statistics. By listening to noise, we can better understand where the folly of men and their calculations is leading us…” 

A conceptualização de paisagem sonora formulada por Murray Schafer, continua a fazer cada vez mais sentido, ainda que tenham passado vinte e seis anos desde a publicação da versão original da obra The Thinking Ear. Durante mais de duas décadas foram constatados vários avanços propiciados pela revolução tecnológica, e a densidade das sonoridades urbanas acompanhou esse processo com a inegável intensificação do ruído envolvente. Mas se o aumento das sonoridades urbanas pode ser efectivamente comprovado, também o estado de constante “hipnose” dominante na sociedade, prova que esta não reage ao ruído, por já não saber viver sem ele. O silêncio emerge, neste contexto, como um tipo de som difícil de encontrar e de suportar. O mesmo acontece com o sussurro: “ninguém sussurra no centro da cidade.” (Schafer,1992: 233).
A psicologia do sussurro, tal como é evidenciada por Murray Schafer, caracteriza-o como informação privilegiada. O encantamento que circunda este tipo de som faz-me pensar na sua consequente adaptação ao jornalismo radiofónico. Da mesma forma que a incorporação do sussurro no início de uma obra pode despertar o interesse por parte do público, será que também a sua inclusão, na transmissão de uma qualquer mensagem radiofónica, pode captar melhor o ouvinte? Para a psicologia do sussurro a resposta parece ser irrevogavelmente afirmativa, mas em termos fisiológicos a intimidade natural deste tipo de som torna-o simultaneamente “escorregadio”, pela “falta de ressonância produzida pela vibração das cordas vocais.” (Schafer, 1992: 233).
Ainda que a aplicabilidade do sussurro a uma área como o jornalismo radiofónico seja questionável, a sua inexistência, no quotidiano daqueles que vivem nas grandes cidades, é facilmente perceptível, quando analisada num ambiente em que o barulho é constante e claramente convertido em ameaça. A poluição sonora nas sociedades industrializadas surge, assim, como um dos problemas da contemporaneidade, cuja intensidade aumenta continuamente, a par de “evidências recentes”, que mostram que o ser humano está a ficar “gradualmente surdo.”[1] (Schafer, 1992: 288). Uma surdez que ainda é parcial, mas que reflecte o ambiente sonoro de uma sociedade consumida pelo som, e na qual nada acontece na sua ausência.



[1] “Se ficarmos todos surdos, simplesmente não haverá mais música. Uma das definições de ruído é que ele é o som que aprendemos a ignorar. E como nós o temos ignorado por tanto tempo, ele agora foge completamente ao nosso controle.” (Schafer, 1992: 289).

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