O Valor da Vida Animal foi a primeira publicação que fiz neste blog e talvez tenha sido um dos temas mais interessantes que explorei até hoje.
O porquê de o ter feito? Bem, nos últimos tempos percebi que há diversas bioacústicas que caracterizam a paisagem sonora. Essas acústicas não se restringem apenas aos animais humanos, mas também aos animais não humanos. Embora reconheça que o aprofundamento deste tipo de questões ainda se encontra numa fase claramente primitiva acredito que, actualmente, há uma preocupação cada vez mais evidente quanto à inserção de uma consciência relativa à preservação do direito animal, ainda que, na prática, nem sempre se verifique a sua real aplicabilidade.
Hoje pensei em dar um salto para outro plano, não menos relevante, que sintetiza a capacidade sonora do ser humano em cinco contextos distintos.
Há pouco tempo tive a oportunidade de ver a TED talk de Julian Treasure, que assegura uma perspectiva singular relativamente à comunicação sonora e à importância da compreensão oral como plataforma para o conhecimento. Dois horizontes que me parecem emergentes, talvez pelo facto de a maioria das pessoas os ignorarem por completo.
“Five Ways to Listen Better” foi o mote da apresentação de Julian Treasure, autor do Livro Sound Business e fundador da empresa The Sound Agency, uma agência de som que pretende ajudar os seus clientes a alcançarem melhores resultados nos seus negócios, através da utilização intencional e apropriada do som.
“We are losing our listening”
Para Julian Treasure, “a recompensa por uma audição precisa e cuidadosa simplesmente desapareceu”. A poluição sonora que caracteriza os espaços que habitualmente frequentamos é cansativa, principalmente por não permitir que prestemos atenção a uma gama de filtros sonoros, responsáveis pela condução de uma imensidão de sons até aos que efectivamente prestamos atenção.
Num mundo em que a sensibilidade passa para segundo plano, a impaciência passou de opção a evidência, quando confrontada com a impossibilidade de privilegiar tudo aquilo que é subtil, pacato e discreto.
“Um mundo no qual não nos ouvimos uns aos outros é, de facto, um mundo assustador.”
Mas como contornar isso se, segundo o próprio Julian, o ser humano apenas retém 25% de tudo aquilo que ouve?
Ok…até posso concordar com o facto de a “audição consciente” ser uma espécie de plataforma para a compreensão. Mas será que isso, por si só, é suficiente? Esta é uma questão para a qual não tenho resposta, talvez por considerar que a compreensão mútua não existe, inserida no seio de uma sociedade dominada por um conjunto de interesses aos quais não pode, nem consegue renunciar.
A justificação da audição, enquanto caminho para o entendimento, parece-me ser uma visão demasiadamente simplista da realidade e que prefere ocultar as razões efectivas que fundamentam a ausência uma compreensão recíproca, que deveria existir com ou sem a existência de som.
Ainda assim, aqui fica uma breve síntese dos cinco exercícios para ouvir melhor, sugeridos através da TED talk de Julian Treasure:
1. Silêncio – Apenas três minutos de silêncio por dia. Um exercício para reajustar os ouvidos de forma a possibilitar a audição de silêncio novamente.
2. Batedeira – Mesmo que se encontrem num ambiente barulhento, tentem estar no café e ouvir quantas frequências de som individuais conseguem percepcionar.
3. Saborear – Apreciar sons comuns. Os sons banais podem ser muito interessantes se prestarem atenção.
4. Posturas auditivas – Brincar com os filtros de som para que possamos tomar consciência da sua presença e procurar outro sítio apropriado à audição de cada um.
5. Acróstico – Passível de ser utilizado na comunicação auditiva:
Receive – Prestar atenção ao interlocutor.
Apreciate – Fazer pequenos ruídos (‘pois’, ‘ah’, ‘ok’).
Summarise – Utilizar a palavra ‘então’ (considerada relevante em qualquer comunicação).
Ask – Fazer questões no fim do diálogo.
“Eu acredito que cada ser humano precisa de ouvir conscientemente para viver uma vida plena – interligado no espaço e no tempo, com o mundo físico à sua volta, conectado com o outro, sem mencionar a ligação espiritual, porque todos os caminhos espirituais que conheço têm a audição e a contemplação na sua essência.”
Julian Treasure
Sem comentários:
Enviar um comentário