Já não sobram segundos para prestar atenção à simplicidade dos gestos, num mundo em que a maioria das pessoas mergulha num estado de dormência permanente, no qual a consciência moral não é mais do que um produto descartável, responsável por converter gritos de dor, em mero silêncio.
Ok…nada de novo.
Aliás, todos nós já passámos por situações em que a indiferença foi a melhor opção que encontrámos, ainda que não fosse a mais correcta. Desligar do mundo pode não ser a melhor alternativa, mas é, na maior parte das vezes, aquela que nos permite reorganizar as ideias. Respirar.
O único problema é que, permanecer em off durante muito tempo, pode não dar bom resultado.
Arrisco em dizer, que o off a que nos permitimos, tantas vezes, deve ser mediano, sem deixar de admitir um despertar repentino para a realidade.
Ainda que possa existir uma espécie de “colisão inicial”, pior do que isso, é a dor que a consciência de cada um pode provocar, ao perceber que, a realidade de outrem esteve a um passo de ser invertida.
Arrisco em dizer, que o off a que nos permitimos, tantas vezes, deve ser mediano, sem deixar de admitir um despertar repentino para a realidade.
Ainda que possa existir uma espécie de “colisão inicial”, pior do que isso, é a dor que a consciência de cada um pode provocar, ao perceber que, a realidade de outrem esteve a um passo de ser invertida.
Hoje ouvi um grito. Um grito bem ao longe. Não restavam dúvidas. Era um "grito em silêncio". A voz de uma menina de dois anos, que gritava para viver.
Ninguém a ouviu. Durante sete minutos. Depois de ter sido atropelada duas vezes, passaram por ela cerca de uma dúzia de pessoas, que reagiram com a indiferença de quem passa por qualquer coisa que não podia estar noutro lugar, nem podia ser de outra maneira.
A apatia de uma reacção, claramente inconsciente, reflectiu-se no desenrolar de um acontecimento, que hoje põe em causa a moralidade das pessoas que o ignoraram.
Esta menina já não mostra a mesma expressão na voz, mas o seu grito continua a ecoar no vazio da consciência humana.
Chama-se Wang Weue, e morreu hoje no hospital militar de Guangzhou, na China, uma semana depois de ter sido atropelada por dois veículos num mercado em Foshan.
Há quem conteste a moralidade chinesa e há também quem recorde situações transactas que fundamentam o actual lado menos solidário da sociedade oriental.
Confesso que não sei se esta indiferença poderá estar na base dos dois aspectos acima enunciados. Aliás, quer-me parecer que o grande problema reside sim, na imutabilidade da natureza humana.
E, neste caso, talvez me sinta forçada a concordar com Nicolau Maquiavel, quando afirmou que a natureza humana é, inevitavelmente, má e movida por um egoísmo exacerbado, através do qual não é possível esperar que os homens ajam, de acordo com aquilo que se espera deles.
“Mesmo as leis mais bem ordenadas, são impotentes diante dos costumes”
Nicolau Maquiavel
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