As manhãs sempre foram dramáticas. Acordar tornava-se particularmente problemático, quando o que estava em causa era a interrupção de um sonho.
“Vá lá Isabel, já são horas… Não me faças perder a paciência!”
Sabia que a mãe fervia em pouca água. Insistir em permanecer deitada só ia piorar a situação. Espreguiçou-se ao comprido, na cama de casal, e encontrou forças para abandonar os lençóis.
A indumentária do dia já havia sido escolhida. A mãe adorava fazê-lo, mesmo depois de prever as discussões que poderia desencadear.
“Mãe, posso escolher a roupa para vestir hoje?” – perguntou acanhada.
“Tens cinco minutos!” – o tom de voz foi ríspido, mas percebeu-lhe o sorriso de soslaio.
De calças vermelhas, camisola amarela e gorro azul na cabeça, não podia estar mais confiante. Podia não ser a combinação perfeita, mas e depois?
A despreocupação de criança, rasgava em mil pedaços os preconceitos gastos, que povoam as mentalidades dos meninos crescidos. Vivia. Ao sabor da maré vaza.
Sem comentários:
Enviar um comentário