sábado, 26 de novembro de 2011

“Que seja um bom Natal, para todos nós”


Parecia irónico. Nunca suportei aquela música mas naquele momento fez sentido.

Voltei a olhar para ela. As mãos enrugadas extraíam os poucos tostões que restavam na carteira azul petróleo. Suspirou. Retirou um volume de talões do Continente, cuidadosamente arquivados. Nas costas de um desses talões, começou a escrever. As mãos tremiam.
Não tinha pressa. Vivia sozinha. Daí não reagir bem a ruídos fortes. Respeitava o seu silêncio. Protegia-o.
Rumorejou entre dentes qualquer coisa que não consegui precisar. Depois descansou o olhar em mim e disse: «Este ano não há Natal».
Não lhe senti tristeza no olhar, nem queixume na voz. Estava claramente resignada, por um motivo que agora sei bem qual foi.

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