sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

À Margem das Emoções - 1ª Parte

Os olhares desatentos vagueiam sem destino. Percorrem o chão e desenham o trajecto de um rumo incerto. Entre palavras e gestos discordantes, os utentes do pólo Júlio de Matos, do Parque de Saúde de Lisboa, vivem mais um dia.
No Pavilhão nº 27 do mesmo Parque, é o Centro de Dia do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT). O refúgio daqueles que perderam o chão.
Sentado nas escadas que dão acesso ao pavilhão, está um homem mergulhado numa viagem sem regresso. Os olhos postos na escadaria de pedra, não se deixam perceber. Demora-se entre breves travos, para depois se despedir de um cigarro, já quase sem vida. Os dedos amarelos contam anos de um vício que não soube controlar.
«Tenho que ir» - murmura e desaparece por entre as sombras imprecisas do seu próprio corpo.
No interior do Centro de Dia, o ar é abafado. Denuncia o peso das histórias. Os capítulos de um passado, que insiste em fazer-se presente, com todos os fantasmas de uma adolescência mal sentida.
No piso de cima, o ambiente é descontraído. Numa das mesas, ao fundo da sala, três utentes baralham as cartas e ditam as regras do seu próprio jogo. O jogo da vida.
(...)

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