Depois de três anos a consumir droga com a mesma fonte de rendimento, Pedro despede-se de um emprego que já tinha como estável. Aos dezoito anos começa a arrumar carros, para alimentar uma dependência contínua, que se prolongou até aos vinte e cinco anos de idade.
«A minha mãe não podia sustentar um vício que era meu», reconhece. «Só a arrumar carros, conseguia cerca de trezentos euros por dia. A minha mãe costuma dizer que eu tenho um BMW num braço e um prédio de luxo no outro», confirma entre risos discretos.
Os sete anos que se seguiram fizeram da rua a única morada que tinha como certa e da heroína a sua melhor amiga. Pedro trabalhava todos os dias, sem abrir excepção a qualquer data. «Não havia Natal. Para mim era tudo igual».
Entre seringas deixadas numa cama por fazer e os comportamentos manipulativos de um filho que já não conhecia, a mãe de Pedro já não tinha dúvidas quanto à sua doença.
Com o passar do tempo a heroína deixou de ser suficiente e aos dezanove anos iniciou o consumo de cocaína – a droga que o deixava extasiado.
Deixou o medo em parte incerta e viveu a vida na eminência de um perigo evidente.
«Brinquei com a vida», recorda. Estava perdido. Vagueava entre a certeza de ter que deixar a droga e ausência de forças para o fazer. Tentou o suicídio. «Senti que era um peso para a minha família», confessou.
Com o aparecimento da EMEL, a profissão que adoptou mostrou ter os dias contados. Dividir os seus dias em deslocações entre a sua casa e o parque de estacionamento onde trabalhava, tornou-se cada vez menos rentável. Foi nessa altura que admitiu a possibilidade de um tratamento. «Ou vou roubar, ou tenho que me ir tratar», afirma.
Com vinte e cinco anos, Pedro deu os primeiros passos na direcção certa, decidido a expulsar a droga da sua vida. O passado que trazia consigo foi um dos factores que dificultou os primeiros tempos de um tratamento que não foi fácil. «Eu vinha de um ambiente complicado. Do salve-se quem puder. No mundo da droga não há amigos. A única amiga é a heroína».
Ao contrário de alguns dos seus colegas, Pedro fez o seu tratamento na ausência de metadona – um analgésico da classe dos narcóticos, que reduz os sintomas de dor neuropática, numa fase de abstinência. «Largar a droga não custa. O que custa é voltar a sentir as emoções. Viver a vida». Assevera, sem queixume na voz, para depois acrescentar: «Senti a minha “ressaca” na pele. Foi uma grande luta».
(...)
Sem comentários:
Enviar um comentário