sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

À Margem das Emoções - 2ª Parte





De mãos pousadas sobre uma mesa de madeira, Pedro volta a ser a criança de outrora. De passagem, consegue recordar todos os momentos. Mesmo aqueles, que permanecem fechados a sete chaves.
O olhar vazio esconde a história de um menino, que cresceu sem o amor de um pai alcoólico, que só viu três vezes. Entregue aos cuidados da mãe e do avô materno, cedo percebeu o ambiente violento a que foi submetido.





A alteração temporária de percepções de risco, sob o efeito do álcool, foi evidente e cedo culminou em investidas físicas difíceis de esquecer.
«Se ainda estou cá, posso agradecer a uma vizinha, que me salvou. Tinha cinco anos. O meu avô chegou a casa completamente bêbado e apertou-me o pescoço, até eu ficar sem cor».
As agressões deixaram marcas que o tempo não apagou. Ainda assim, Pedro reconhece no avô o pai que nunca teve, e preserva os bons momentos de uma relação que ainda existe.
O olhar pensativo descansa nas mãos grandes e grossas.
Tem sete anos de idade. Uma caixa de comprimidos vazia, reflectida no espelho da casa de banho, parece patentear o pior. «Foi dramático. Na altura em que eu precisava mais dela…», conta. Na obtusidade de um sopro, revive a tentativa de suicídio, por parte da Mãe, depois da discussão acesa que teve com o pai.
Virou a página mais uma vez e desejou o alento do amanhã promissor.
Pedro era um menino extrovertido e de palavras fáceis. No seu mundo de gestos ousados, não havia espaço para restrições. «Não tinha quaisquer limites. Faltava-me a mão de um pai».
Aos seis anos de idade começou a fumar e aos onze anos deixou a escola para começar a trabalhar como ajudante de camionista.
De semblante fechado, Pedro desembarga a voz para contar a experiência que definiu os tempos que se seguiram. Com doze anos de idade experimentou uma droga, que só mais tarde veio a saber que era heroína.
Curiosidade foi o motivo que o levou a consumir pela segunda vez, para depois mergulhar num mundo, onde os problemas eram mitos ausentes.
«Porque não? Estava relaxado. Estava-se bem.»
Durante cinco meses, o consumo sempre foi gratuito e feito através de amigos. Estava longe de admitir a possibilidade de se encontrar dependente de uma substância. Foi o sintoma de uma suposta constipação, que o fez perceber que estava a ‘ressacar’ de um opióide, que precisava de voltar a consumir – a heroína.
Aos quinze anos Pedro já consumia diariamente e suportar um emprego tornou-se cada vez mais complicado. «Quando tinha droga ia trabalhar. Quando não tinha, não ia», confessa resignado.
(...)

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