sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

À Margem das Emoções - 6ª Parte

Reconhecer as emoções. Voltar a sentir. Um processo complicado, num percurso onde os obstáculos cresciam de dia para dia.
«Não dei tempo ao tempo para viver. Vivi como sabia».
Depois de oito anos sem consumir e temporariamente afastado do IDT, Pedro recorda aquela que foi a sua terceira recaída.
Com as emoções à flor da pele, encontrou na droga o ponto de abrigo para colmatar a morte da própria tia.
Os olhos castanhos estão agora embrulhados. As lágrimas percorrem o rosto numa marcha lenta que não quer terminar.
«Nunca tinha visto uma pessoa a morrer à minha frente. Ainda tive sangue frio para a esticar no chão. Peguei nela, já cadáver e meti-a em cima da cama da minha mãe. Fechei a porta. Fui à carteira e como em frente à minha casa vendem droga, foi só atravessar a avenida e vir para casa consumir. Consumi ao lado dela, já morta. Fiquei bloqueado. Só pensava numa coisa: eu tenho que tapar isto. Quando liguei para a ambulância já tinha passado uma hora e meia».
Ainda que mostre estar consciente dos efeitos que a droga pode causar, Pedro não deixa de admitir a possibilidade de uma nova recaída. «Estive oito anos bem e caí. Quem é que me garante que isso não volta acontecer?» Levanta o olhar. Permite-se olhar o céu cinzento, para depois segredar «Já sei o que vem do outro lado. Não vem nada de bom».
(...)

Sem comentários:

Enviar um comentário