Os olhares de um público sedento procuram um estímulo. Um ímpeto sonoro, capaz de quebrar aquele silêncio. De repente: dois corpos. Duas vozes. A atenção tomou lugar no canto lateral esquerdo,do palco principal do Teatro de São Luíz. O lado onde as conexões conceptuais de uma mente, ameaçavam contagiar a influência tecnológica do corpo.
Foi entre risos e palavras cambiadas que Ka Fai Choy apresentou Notion Dance Fiction. Uma performance baseada numa investigação inovadora, em torno da memória muscular digital.
Mas, poderá a subjectividade de uma memória corporal ser resumida à materialização de uma memória colectiva? Poderão os estímulos involuntários estar na origem de uma representação material, daquilo que poderá vir a ser uma subjectividade pós-moderna?
Através da apresentação de movimentos icónicos de dança do século XX, Ka Fai Choy manipula os grupos musculares em actividade, cria movimentos artificiais involuntários e controla, em tempo real, o corpo de uma bailarina dominada por estímulos eléctricos.
Aprender, adaptar e recriar. Três desafios, que se assumem perante uma das personagens dispostas no centro daquele palco.
Transportada para o espaço ténue do tempo futuro, a bailarina deixa-se projectar na sombra de um passado, e dá sentido à multiplicidade de movimentos reproduzidos, num processo involuntário que o corpo já não pode memorizar.
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